Clepsidra, de Camilo Pessanha (1867-1926) e o movimento do Decadentismo e Simbolismo em Portugal.
Summary
A imagem de Pessanha, o poeta alucinado e andrajoso, vagueando pelos antros de ópio, é também uma imagem herdada do Estado Novo e que só tem alguma remota correspondência com a realidade nos anos derradeiros da sua vida mas é verdade que era visto como uma figura exótica na tradicionalista comunidade de Macau, onde toda a gente se conhecia. Não ia à igreja e tinha um filho de uma concubina chinesa, o que não contribuiria para facilitar a integração, que, aliás, também não parece ter desejado.
Morreu em 1926, adormentado pelo ópio e decerto indiferente à eventual posteridade dos seus versos. Mas estes iriam ecoar em sucessivas gerações de poetas portugueses, marcando os autores de Orpheu e da Presença e, depois, poetas como Eugénio de Andrade, seu assumido herdeiro, ou, para referirmos um nome revelado já no século XXI, Manuel de Freitas, cuja poesia está cheia de alusões a Pessanha.
O Público, 29 Setembro 2009.